O que foi a revolução constitucionalista de 1932?
Eliza Kobayashi (novaescola@atleitor.com.br)
Cartaz de convocação de voluntários.Acervo do Instituto Histórico e Geográficode São Paulo. Foto: Renato Chaui
Antes
de falar sobre a Revolução Constitucionalista de 1932, é preciso voltar
alguns anos na história para buscar os embriões deste que foi um dos
maiores movimentos armados da história do Brasil. Durante a República
Velha (1889-1930), formou-se uma aliança entre os estados mais ricos e
influentes do país na época, São Paulo e Minas Gerais, cujos
representantes alternavam-se no posto da presidência da república
naquilo que ficou conhecido como a "política do café com leite". Em
1930, porém, o presidente Washington Luís, representante dos paulistas,
rompe a aliança com os mineiros e indica o governador de São Paulo Júlio
Prestes como seu sucessor, que venceu as eleições. As oligarquias
mineiras não aceitam o resultado e, por meio de um golpe de estado
articulado com os estados do Rio Grande do Sul e da Paraíba, colocam
Getúlio Vargas no poder.
"Getúlio vem com uma nova proposta de
modernização do país. O grupo que chega ao poder pretende promover essas
mudanças de maneira autoritária, sem consultas eleitorais", conta
Alexandre Hecker, professor de História Contemporânea da Universidade
Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Mackenzie. O novo presidente
fecha o Congresso Nacional, anula a Constituição de 1891 e depõe
governadores de diversos estados, passando a nomear interventores. As
medidas desagradam profundamente as elites paulistas tradicionais.
"Esses grupos, que eram ligados ao Partido Republicano Paulista (PRP) e
haviam sido derrotados pela revolução de 1930, passam a trabalhar em
oposição ao governo de Getúlio", diz Alexandre. Já, a partir de 1931, se
junta a essa elite deposta um "grupo mais moderno", que exige do
governo a criação de uma carta magna que regesse a legislação do país -
algo que Vargas vinha adiando cada vez mais - além de eleições gerais
para presidente da república.
Ao mesmo tempo em que se formava
esse grupo opositor, fortaleciam-se, em São Paulo, os chamados
tenentistas, constituídos não apenas por militares, mas também de civis
que agiam sob sua liderança. "Eles se reuniam no Clube Três de Outubro e
apoiavam as ações do governo", explica o professor. "Havia diversas
brigas de rua entre os estudantes do Largo São Francisco e esse grupo
getulista, os tenentistas". No dia 23 de maio, essas forças se
encontraram e se defrontaram nas ruas de São Paulo, o que resultou na
morte de alguns estudantes em praça pública, que ficaram famosos como
MMDC (sigla das iniciais dos quatro jovens mortos: Martins, Miragaia,
Dráusio e Camargo. Mais tarde, adicionou-se a letra A, de Alvarenga, ao
final da sigla, de outro jovem que acabou morto por causa do conflito).
Essas
mortes foram o estopim que deu início no dia 9 de julho de 1932 à
Revolução Constitucionalista. Com a ajuda dos meios de comunicação em
massa, o movimento ganha apoio popular e mobiliza 35 mil homens pelo
lado dos paulistas, contra 100 mil soldados do governo Vargas. "Havia
uma possibilidade de que outros estados viessem em apoio ao governo do
estado de São Paulo, mas ele ficou isolado e, com isso, se desenvolveu
uma série de batalhas", destaca Alexandre. Foram quase três meses de
batalhas sangrentas, encerradas em 2 de outubro daquele mesmo ano, com a
derrota militar dos constitucionalistas. "Moralmente, porém, em termos
de denúncia política, o movimento foi vencedor, porque logo depois do
término do conflito, o governo federal convocou eleições para uma
Assembleia Constituinte, que promulgou a Constituição do Brasil em 1934.
Foi também quando, pela primeira vez no país, as mulheres participaram
do processo eleitoral", ressalta o historiador.
O termo
"revolução" para o movimento constitucionalista não é muito adequado
àquilo que se propunha fazer, segundo o professor. "Não era uma
revolução. Na verdade, desejava-se a normatização da legislação e do
processo eleitoral, e não uma mudança no sentido de alteração das
relações de poder ou qualquer coisa que significasse uma limitação no
processo de desenvolvimento capitalista", afirma. Ele diz que, para
alguns historiadores, o movimento é considerado até conservador e
anti-revolucionário. "Era uma elite derrotada que queria voltar ao poder
e encontraram nesse movimento uma desculpa para isso".
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