29 julho, 2012

Aprendi que sou tão cheia de defeitos, 
Mas  não sei se viverei o bastante para corrigí-los.


Aprendi que busco um pouco de mim em cada personagem,
Mas não sei se consigo responder quem sou eu.


Aprendi que é na hora da morte que muitos preferem viver,
Mas não sei se eles sabem realmente o que querem .


Aprendi que não adianta muito escrever isso,
Mas não posso deixar de escrevê-lo.

12 julho, 2012

Preconceito Linguístico

Trecho do livro "A Língua de Eulália", interessantíssimo:

  • Quantas vezes você já ouviu alguém dizer Cráudia, grobo, pranta, ingrês, broco e teve muita vontade de rir, se é que não riu gostoso? Ou então, teve pena do “pobre coitado” que “não sabe português” e fala tudo “errado”? Afinal, os professores, os livros, as gramáticas e os dicionários nos ensinam que o “certo”, o “bonito” é falar Cláudia, globo, planta, inglês, bloco... Emília, Sílvia e Vera estão muito sérias, atentas a cada palavra de Irene. — Mas será que é mesmo assim tão engraçado? — pergunta Irene. — Vamos ver. Ela se levanta, vai até a lousa e escreve algumas palavras: igreja Brás praia frouxo escravo Emília as copia no bloquinho de papel que trouxe, pensando que seria útil fazer algumas anotações. Vera e Sílvia não tiram os
  • 49. olhos da lousa. — Leiam com cuidado estas palavras — pede Irene. — Tudo bem com elas, não é? Estão “certas”, não estão? — Aparentemente sim — responde Vera. — E de fato estão — confirma Irene. — Mas se você for buscar a história dessas palavras e descobrir de que modo elas ficaram com a forma que hoje têm em português “certo”, é provável que tenha uma grande surpresa... Irene entrega a cada uma delas uma folha impressa. — Dêem uma olhada neste quadro... Quadro 2 LATIM FRANCÊS ESPANHOL PORTUGUÊS ecclesia- église iglesia igreja Blasiu- Blaise Blas Brás plaga- plage playa praia sclavu- esclave sclavo escravo fluxu- flou flojo frouxo [pág. 44] — E então, Emília? — provoca Irene. — Não lhe parece engraçado que onde havia um L em latim (L que se conservou em francês e espanhol) surgiu um “ridículo” R em português? O que terá acontecido? Será que você e um monte de gente desavisada estão usando estas palavras sem saber que são “erradas” ou “engraçadas”? Emília não ousa dizer nada. Irene prossegue: — Leiam agora esses versos d’Os Lusíadas que estão mais abaixo do quadro. Lembrem-se que Os Lusíadas foram escritos por aquele que é considerado o maior poeta da língua portuguesa, Luís de Camões, tido até como o verdadeiro “inventor” da nossa língua literária...
  • 50. Quadro 3 “E não de agreste avena, ou frauta ruda” (canto I, verso 5) “Doenças, frechas, e trovões ardentes” (X, 46) “Era este Ingrês potente, e militara” (VI, 47) “Nas ilhas de Maldiva nasce a pranta” (X, 136) “Pruma no gorro, um pouco declinada” (II, 98) “Onde o profeta jaz, que a lei pubrica” (VII, 34) Irene olha bem séria para suas “alunas” e pergunta: — Nós agora devíamos estar rolando no chão de tanto rir, não é? Pois acabamos de descobrir que o tão badalado Camões também “não sabia português”, era “burro” e falava “língua de índio”! — Está mesmo escrito assim, tia, lá n’Os Lusíadas? — pergunta Vera. — Pois está — responde Irene. — Não é terrível? Será que não houve uma só alma caridosa que dissesse a ele: “Não, Luís, não é frauta, frecha, ingrês, pranta, pruma, pubrica, mas sim flauta, flecha, inglês, planta, pluma, publica”? Irene pára e observa o ar surpreso das três jovens. — Mas ainda há pior — ameaça ela. — Vocês se lembram de José de Alencar e de Machado de Assis? Pois é, eles também escreviam froco em vez de floco. [pág. 45] — Decifre logo esse enigma, Irene — pede Emília. — Minha curiosidade está me mordendo toda! Irene sorri: — Mas a coisa é bem simples, Emília. Existe na língua portuguesa uma tendência natural em transformar em R o L dos encontros consonantais, e este fenômeno tem até um nome complicado: rotacismo. Quem diz broco em lugar de bloco não é “burro”, não fala “errado” nem é “engraçado”, mas está apenas
  • 51. acompanhando a natural inclinação rotacizante da língua. O que era L em latim, nessas palavras do quadro 3, permaneceu L em francês e em espanhol, mas em português se transformou em R. Já em italiano, só para vocês saberem, este mesmo L virou um I: fiamma (“flama”), fiore (“flor”), pianta (“planta”). — Se a tendência é essa — pergunta Emília —, porque existem palavras em português que mantiveram aquele L depois de consoante? — Há mais de uma razão, Emília — responde Irene —, mas nenhuma delas tem nada a ver com “certo” ou “errado”. Pode ter sido uma tentativa de alguns escritores e gramáticos de “recuperar” a forma latina original. Pode ter sido uma simples questão de opção: na época de Alencar e Machado havia a liberdade de escolha entre froco e floco, o que hoje já não existe. O próprio Camões, n’Os Lusíadas, escreve ora ingrês, ora inglês. Por razões como essas, entre outras, é que algumas palavras permaneceram na norma-padrão com o L do latim, enquanto outras, pelo fenômeno do rotacismo, ficaram com o R. E como os hábitos e os gostos lingüísticos mudam e variam, hoje já não está mais “na moda” dizer frecha, froco, pranta... — Puxa vida — deixa escapar Sílvia —, eu nunca ia poder imaginar uma coisa dessas... — Nem eu — confessa Emília —, juro que nunca mais vou rir de quem disser chicrete em vez de chiclete. — Como eu expliquei ontem — retoma Irene —, o português não-padrão é coerente na sua obediência às tendências da língua. Os falantes do PNP só conhecem encontros consonantais com R. Na variedade deles simplesmente não existem encontros consonantais com L. — Mas como essas pessoas são pobres, analfabetas ou quase — deduz Vera —, vivem nos piores lugares das cidades, estão longe [pág. 46] dos centros de poder, não escrevem livros nem trabalham nas novelas de televisão, a língua que elas falam é considerada
52. “engraçada”, “pobre”, “feia”, “errada”, e por isso a gente é ensinada (e ensina) a rir desse modo de falar... — Mas não devia ser assim, não é? — completa Irene. — A gente ri de uma frase como “Cráudia fala ingrês e gosta de chicrete”, mas não ri de “A igreja de São Brás é perto da praia”, muito embora as palavras das duas frases tenham uma mesma explicação histórica. E por que a gente ri? Porque a segunda frase tem palavras que pertencem à língua literária, à língua escrita, à língua que se aprende na escola e é usada pelas pessoas importantes, ricas, poderosas, “bonitas”. Já a primeira frase, não. Ela tem palavras usadas por pessoas que, como bem disse a Vera, sofrem com as injustiças sociais, nunca puderam ir à escola aprender a língua literária, escrita, dos “ricos”, e falam um português diferente do nosso. Mas, como estamos vendo, a língua delas não tem problema nenhum: é coerente, segue as tendências naturais do português e tem uma lógica histórica. — O problema dessas pessoas, então — conclui Sílvia —, não é lingüístico, é social? — Exatamente — confirma Irene. — E enquanto não for resolvido, continuará a ser um probrema sem a menor graça... Emília, Vera e Sílvia ficam sérias e pensativas. Irene percebe o clima, e para quebrar o silêncio, bate palmas e diz: — Meninas, não sei vocês, mas eu estou roxa de frio e azul de fome. Que tal a gente ir para a cozinha preparar uma boa sopa? E assim dá por encerrada aquela aula.

O que foi a revolução constitucionalista de 1932?

O que foi a revolução constitucionalista de 1932?


Cartaz de convocação de voluntários para a Revolução Constitucionalista de 1932. Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Foto: Renato Chaui
Cartaz de convocação de voluntários.Acervo do Instituto Histórico e Geográficode São Paulo. Foto: Renato Chaui
Antes de falar sobre a Revolução Constitucionalista de 1932, é preciso voltar alguns anos na história para buscar os embriões deste que foi um dos maiores movimentos armados da história do Brasil. Durante a República Velha (1889-1930), formou-se uma aliança entre os estados mais ricos e influentes do país na época, São Paulo e Minas Gerais, cujos representantes alternavam-se no posto da presidência da república naquilo que ficou conhecido como a "política do café com leite". Em 1930, porém, o presidente Washington Luís, representante dos paulistas, rompe a aliança com os mineiros e indica o governador de São Paulo Júlio Prestes como seu sucessor, que venceu as eleições. As oligarquias mineiras não aceitam o resultado e, por meio de um golpe de estado articulado com os estados do Rio Grande do Sul e da Paraíba, colocam Getúlio Vargas no poder. 
"Getúlio vem com uma nova proposta de modernização do país. O grupo que chega ao poder pretende promover essas mudanças de maneira autoritária, sem consultas eleitorais", conta Alexandre Hecker, professor de História Contemporânea da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Mackenzie. O novo presidente fecha o Congresso Nacional, anula a Constituição de 1891 e depõe governadores de diversos estados, passando a nomear interventores. As medidas desagradam profundamente as elites paulistas tradicionais. "Esses grupos, que eram ligados ao Partido Republicano Paulista (PRP) e haviam sido derrotados pela revolução de 1930, passam a trabalhar em oposição ao governo de Getúlio", diz Alexandre. Já, a partir de 1931, se junta a essa elite deposta um "grupo mais moderno", que exige do governo a criação de uma carta magna que regesse a legislação do país - algo que Vargas vinha adiando cada vez mais - além de eleições gerais para presidente da república.
Ao mesmo tempo em que se formava esse grupo opositor, fortaleciam-se, em São Paulo, os chamados tenentistas, constituídos não apenas por militares, mas também de civis que agiam sob sua liderança. "Eles se reuniam no Clube Três de Outubro e apoiavam as ações do governo", explica o professor. "Havia diversas brigas de rua entre os estudantes do Largo São Francisco e esse grupo getulista, os tenentistas". No dia 23 de maio, essas forças se encontraram e se defrontaram nas ruas de São Paulo, o que resultou na morte de alguns estudantes em praça pública, que ficaram famosos como MMDC (sigla das iniciais dos quatro jovens mortos: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo. Mais tarde, adicionou-se a letra A, de Alvarenga, ao final da sigla, de outro jovem que acabou morto por causa do conflito).
Essas mortes foram o estopim que deu início no dia 9 de julho de 1932 à Revolução Constitucionalista. Com a ajuda dos meios de comunicação em massa, o movimento ganha apoio popular e mobiliza 35 mil homens pelo lado dos paulistas, contra 100 mil soldados do governo Vargas. "Havia uma possibilidade de que outros estados viessem em apoio ao governo do estado de São Paulo, mas ele ficou isolado e, com isso, se desenvolveu uma série de batalhas", destaca Alexandre. Foram quase três meses de batalhas sangrentas, encerradas em 2 de outubro daquele mesmo ano, com a derrota militar dos constitucionalistas. "Moralmente, porém, em termos de denúncia política, o movimento foi vencedor, porque logo depois do término do conflito, o governo federal convocou eleições para uma Assembleia Constituinte, que promulgou a Constituição do Brasil em 1934. Foi também quando, pela primeira vez no país, as mulheres participaram do processo eleitoral", ressalta o historiador.
O termo "revolução" para o movimento constitucionalista não é muito adequado àquilo que se propunha fazer, segundo o professor. "Não era uma revolução. Na verdade, desejava-se a normatização da legislação e do processo eleitoral, e não uma mudança no sentido de alteração das relações de poder ou qualquer coisa que significasse uma limitação no processo de desenvolvimento capitalista", afirma. Ele diz que, para alguns historiadores, o movimento é considerado até conservador e anti-revolucionário. "Era uma elite derrotada que queria voltar ao poder e encontraram nesse movimento uma desculpa para isso".

03 julho, 2012

Respirar

Em certas situações escuto mensagens não faladas, obsevo sofrimento não revelado:
                                              Há muitos dias luto com todas as minhas forças para poder respirar, filha. Preciso de suporte para me alimentar, para minha higiene, para me movimentar no leito, e nem sei se tenho consciência de tudo isso, mas eu repiro.....eu ainda respiro. Meu corpo esta frio e feridas se abrem na pele, minha mente tem consciência disto?. Filha, há dois minutos não respiro.........mas de repente o ar entra em meus pulmões, faz com que o ciclo recomece. Ouço muitos suspiros em volta dizendo: (Ouço?) "Quando sofrimento, Deus, põe fim!". Mas tenho minha respiração comigo. Só quero que você compreenda, filha, que por mais dura que a vida possa ser, na hora da morte é que muitos preferem viver.
por Aline Candido