Conto de Francisco Marques - Folhas Secas
Eu estava dando uma aula de Matemática e todos os alunos acompanhavam atentamente.
Todos?
Quase.
Carolina equilibrava o apontador na ponta da régua,
Lucas recolhia as borrachas dos vizinhos e construía um prédio, Renata
conferia as canetas e os lápis do seu estojo vermelhíssimo e Hélder
olhava para o pátio.
O pátio? O que acontecia no pátio?
Após
o recreio, dona Natália
varria calmamente as folhas secas e amontoava e guardava tudo dentro de
um enorme saco plástico azul. Terminando o varre-varre, dona Natália
amarrou a boca do saco plástico e estacionou aquele bafuá de folhas
secas perto do portão.
Hélder observava atentamente. E eu observava a observação de Hélder -
sem descuidar
da minha aula de Matemática. De repente, Hélder foi arregalando os olhos e franzindo a testa.
da minha aula de Matemática. De repente, Hélder foi arregalando os olhos e franzindo a testa.
Qual o motivo do espanto?
Hélder
percebeu alguma coisa no meio das folhas movendo-se deseperadamente, com
aflição, sufoco, falta de ar. Hélder buscava interpretações para a
cena, analisava possibilidades, mas o perfil do passarinho já se
delineava na transparência azul do
plástico.
Um pássaro novo caiu do ninho e foi confundido com as folhas secas e foi varrido e agora lutava pela liberdade.
Um pássaro novo caiu do ninho e foi confundido com as folhas secas e foi varrido e agora lutava pela liberdade.
- Ele tá preso!
O
grito de Hélder interrompeu o final da multiplicação de 15 por 127.
Todos os
alunos olharam para o pátio. E todos nós concordamos, sem palavras: o
bico do passarinho tentava romper aquela estranha pele azul. Hélder saiu
da sala e nós fomos atrás. E antes
que eu pudesse pronunciar a primeira sílaba da palavra "calma", o saco plástico simplesmente explodiu, as folhas voaram e as crianças pularam de alegria.
que eu pudesse pronunciar a primeira sílaba da palavra "calma", o saco plástico simplesmente explodiu, as folhas voaram e as crianças pularam de alegria.
Alguns
alunos dizem que havia dois passarinhos presos. Outros viram três
passarinhos voando felizes e agradecidos. Lucas diz que era
um beija-flor. Renata insiste que era uma cigarra. Eu, sinceramente, só
vi folhas secas voando.
Para concluir esta inesquecível aula de Matemática, pegamos vassouras, pás e sacos plásticos e fomos varrer novamente o pátio.
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