24 novembro, 2011

Memórias póstumas de Brás Cubas

 ...Aí vinha a cobiça que devora, a cólera que inflama, a inveja que baba, e a inchada e a pena, úmidas de suor, e a ambição, a fome, a vaidade, a melancolia, a riqueza, o amor, e todos agitavam o homem, como um chocalho, até destruí-lo, como um farrapo. Eram as várias formas do mal, que ora mordia a víscera, ora mordia o pensamento, e passeava eternamente as suas vestes de arlequim....
...Ao passo que a vida tinha assim uma regularidade de calendário, fazia-se a história e a civilização, e o homem, nu e desarmado, amava-se e vestia-se, construía-se o refúgio e o palácio, a rude aldeia e Tebas de cem portas, criava a ciência, que perscruta e a arte que encanta, fazia-se orador, mecânico, filósofo, corria a face do globo, descia ao ventre da terra, subia à esfera das nuvens, colaborando assim com a obra misteriosa, com que entretinha a necessidade da vida e a melancolia do desamparo... (O delirio de Bras Cubas) 
Impressiono-me com o estilo machadiano.

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